Esta newsletter foi criada para quem busca estar à frente em um mundo em constante evolução. Aqui, você encontrará insights valiosos sobre liderança, gestão moderna, pensamento sistêmico e desenvolvimento de produtos digitais, além de reflexões sobre o equilíbrio entre vida pessoal e profissional. Seja você uma liderança, profissional de tecnologia, empreendedora ou entusiasta do aprendizado contínuo, este espaço oferece conteúdos práticos, inspiradores e alinhados às demandas do século XXI. Junte-se a uma comunidade de pessoas que, assim como você, estão sempre em busca de crescimento e transformação. 🚀
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Nos últimos cinco anos, venho integrando outro tipo de literatura à prateleira clássica dos livros de gestão que orbitam o eixo EUA/Europa, aqueles recheados de casos de empresas do Norte Global, frameworks de alta performance e histórias de pessoas visionárias que, quase sempre, têm o mesmo perfil, a mesma cor e a mesma trajetória. Não que esse repertório não tenha valor. Tem. Mas, sozinhos, esses livros contam uma história muito parcial sobre o que é liderar, conviver, decidir e construir futuro em um país como o Brasil. Por conta desse incômodo, venho, intencionalmente, me aproximando de outros referenciais: pensadoras(es) negras(os), intelectuais quilombolas, filósofa(o)s africanos, lideranças indígenas, pessoas que partem de cosmologias não ocidentais e de experiências radicalmente diferentes da literatura de negócios que domina o mercado editorial. Essa combinação de leituras vem mexendo em algo mais profundo: a ideia de liderança não como técnica, mas como forma de estar no mundo. É sobre esse deslocamento que quero falar aqui. Nas próximas 3 edições da newsletter, compartilharei algumas obras que vêm ampliando minha capacidade de repensar as dinâmicas nas empresas, na sociedade e na figura de liderança. Poder, raça e o "padrão universal" da liderançaO pacto da branquitude da Cida BentoSe eu tivesse que escolher um livro para chacoalhar qualquer liderança branca no Brasil, seria este. Cida Bento parte de uma pergunta simples e poderosa: pessoas brancas, especialmente em posições de poder, já se perguntaram sobre a própria raça? E sobre a ausência de pessoas negras nesses mesmos espaços? Esse silêncio não é neutro: faz parte de um pacto, o "pacto da branquitude", que mantém a branquitude como padrão universal, medida de competência e sinônimo de liderança "natural". Quando Cida analisa processos seletivos, promoções, dinâmicas de equipe e critérios de "meritocracia", ela mostra como as organizações seguem reproduzindo, de forma "cordial" e silenciosa, um sistema em que o poder permanece concentrado nos mesmos corpos. No fundo, ela está perguntando: quem é autorizado a liderar? Quem é visto como referência de neutralidade, racionalidade, autoridade? Para mim, esse livro desloca a liderança de um lugar individual para outro estrutural. Não se trata apenas de "líderes mais conscientes", mas de estruturas menos racistas: conselhos que se olham no espelho, diretorias que revisitam seus critérios de potencial, áreas de gente & gestão que param de tratar a desigualdade racial como "falta de pipeline" ou "não podemos baixar a régua". O Pacto da Branquitude obriga quem está em posição de poder a assumir responsabilidade pelo jogo que está jogando, mesmo quando acha que está apenas "seguindo o processo". Liderar, depois desse livro, também significa perguntar-se: Qual pacto eu estou sustentando com a minha omissão? Terra, corpo, tempo: liderar como quem cuida de um territórioA terra dá, a terra quer do Nego BispoNego Bispo me ensinou uma palavra que não sai mais da cabeça: "envolvimento", em contraste com "desenvolvimento". Se desenvolvimento, na lógica dominante, é avançar, crescer, acumular e, em muitos casos, destruir, envolvimento é tecer, compartilhar, reconhecer-se como parte de um tecido maior. Ele descreve cidades como construções sintéticas, muitas vezes inimigas de outras formas de vida. Também critica uma educação voltada ao acúmulo e questiona a mercantilização da arte e a transformação de tudo em mercadoria. No lugar disso, propõe que olhemos para o reino vegetal: há espaço para todo mundo existir, se a lógica não for a da escassez competitiva, mas a da convivência. Quando ele diz que "só precisa armazenar quem não confia", está falando de consumo, mas também de gestão: equipes que escondem informações, lideranças que acumulam poder, organizações que operam no medo, não na confiança. Em uma empresa, ler Nego Bispo é um convite para perguntar:
Ele desloca a liderança da "gestão de pessoas" para o cuidado com o território, físico e simbólico, no qual essas pessoas existem. Futuro AncestralFuturo ancestral do Ailton KrenakAilton Krenak, em Futuro Ancestral, nos lembra que a separação entre "ser humano" e "natureza" é uma invenção recente e destrutiva. Ele fala de rios tratados como canais de esgoto, de pessoas arrancadas de seus territórios e jogadas nas periferias urbanas, de um capitalismo que precisa de um mundo triste para funcionar, porque alegria, dança e tempo livre não combinam com produtividade infinita. Uma das críticas mais fortes de Krenak é à ideia de que o sofrimento é pedagógico por definição. Ele provoca: "Os brancos que me perdoem, mas eu não sei de onde vem essa mentalidade de que o sofrimento ensina alguma coisa." No campo da liderança, isso é um belo chacoalhão em toda a lógica de gestão que normaliza a exaustão como "parte do jogo". Quando Krenak fala de crianças como portadoras de boas novas e critica a educação como mera preparação para um futuro abstrato, ele está dizendo: o presente é o único lugar de experiência real. Liderar, à luz de Krenak, deixa de ser "preparar para o futuro" e passa a ser criar condições para viver com dignidade o agora. Empresas que falam em "sustentabilidade" sem rever sua lógica de exploração estão, em alguma medida, reproduzindo a mesma separação: planeta de um lado, lucro do outro, como se fossem coisas distintas. Fechando a conversa de hojeO texto desta edição é um convite para expandirmos nossas lentes, algo que eu gosto de chamar de perceber o agora a partir de um novo repertório. Que as obras acima tenham te instigado a interpretar o ambiente em que você está a partir de um novo ângulo, o que nos lembra que liderar não é apenas "fazer bem o próprio trabalho", mas também mexer em pactos, estruturas, incentivos e fronteiras de pertença. Saímos da lógica de "gestão de recursos" para a ideia de cuidar de território, de corpo coletivo, de relações, de tempo. Na próxima semana, seguimos com uma nova edição desta fase de fechamento do canal, com novas referências. E, para você, o que ficou da reflexão desta semana? Me conte respondendo a este e-mail. |
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