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Raphael Donaire Albino

Estruturando a função de Product Operations


Para quem me conhece, sabe do meu interesse por literaturas que esclarecem conceitos e aprimoram a gestão nas organizações digitais. Minha exploração sobre o termo Product Operations começou em 2019 e, desde então, venho tentando compreender seu papel real, principalmente diante das confusões que ainda vemos na comunidade brasileira em torno de “agilidade” e de seus papéis derivados.

Recentemente, a publicação do livro Product Operations: How Successful Companies Build Better Products at Scale, da Melissa Perri e da Denise Tilles, me ajudou a organizar o pensamento, propondo três pilares fundamentais para a disciplina:

  1. Insights de negócio e de dados: coletar, analisar e estruturar dados internos que apoiem decisões estratégicas de produto e monitorem o desempenho de forma contínua.
  2. Insights de mercado e de clientes: estruturar mecanismos de escuta ativa como pesquisas, entrevistas para capturar feedbacks qualitativos e tendências do mercado.
  3. Processos e práticas (também conhecido como governança): estabelecer modelos operacionais consistentes, com rotinas, cadências e governança que habilitem a organização a escalar com mais qualidade e menos desperdício.

Esses três pilares posicionam o Product Ops como uma estrutura habilitadora, capaz de promover alinhamento, fluidez, aprendizado e eficiência.

Do conceito à prática: um estudo de caso

Atuei em uma empresa de Software as Service que, apesar do bom desempenho, enfrentava desafios para escalar seu portfólio de produtos. Faltava visibilidade, havia desalinhamento entre áreas e uma priorização inconsistente. Ao aplicar os pilares de Product Ops (mesmo sem nomeá-los assim na época), estruturamos três frentes:

  • Dados e BI: implementamos dashboards com dados operacionais e de produto.
  • Escuta de clientes: integramos informações do CRM (software de gestão do relacionamento com quem é cliente) com pesquisas e feedbacks de suporte.
  • Práticas e cadências: simplificamos rituais e padronizamos o planejamento de produto com foco em valor, não em métodos.

O resultado foi um ganho real de eficiência, maior clareza estratégica, melhoria da satisfação de clientes e retenção. O ponto-chave? Focar nas capacidades e não nos rótulos.

Product Ops e agilidade: complementares ou substitutos?

No podcast que gravei com o pessoal da PM3 sobre esse tema em 2024, debatemos uma questão recorrente: Product Ops vai substituir a agilidade? Minha visão é que não são papéis concorrentes, mas sim disciplinas complementares, com focos e raízes diferentes.

Enquanto a agilidade nasceu da engenharia de software e expandiu como uma abordagem cultural, o Product Ops se ancora mais na operação e na estratégia de empresas onde os canais digitais são importantes direcionadores de resultado, buscando construir estruturas que conectem eficiência com o impacto.

Ao contrário da aplicação superficial de frameworks ágeis, Product Ops tem potencial de oferecer uma infraestrutura sistêmica que:

  • reduz desperdícios;
  • padroniza práticas sem engessar;
  • melhora o alinhamento entre times e liderança;
  • habilita decisões baseadas em dados.

Mas fica um ponto de reflexão: sem qualidade de dados, estrutura de pesquisa e clareza de propósito, Product Ops corre o risco de se tornar apenas um hub de burocracia (talvez seja por isso que as pessoas tenham tanto ranço da palavra governança).

Product Ops é disciplina, não um departamento

Um ponto forte do debate no podcast foi o reforço de que Product Ops é muito mais uma capacidade do que uma função isolada. A capacidade de garantir que:

  • temos visibilidade do que está acontecendo,
  • sabemos priorizar com critérios sólidos,
  • e somos capazes de conectar entrega com impacto.

Em organizações maduras, isso pode estar sob a liderança de produto, tecnologia, operações ou até estratégia. O importante é que as capacidades estejam ativas e sustentáveis, não dependentes de uma única pessoa ou papel.


Recomendações para quem quer se aprofundar

Te vejo na próxima semana o/

Raphael Donaire Albino

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